Rap Pampa Crew embarca rumo à capital gaúcha para série de eventos

 

Agenda cheia para a arte uruguaianense na quarta (26) e quinta-feira (27/02)

Da esquerda para a direita: Carol, Will, DJ PC e Ordai

Mano Ordai, Will Negrão e DJ PC Afro Music estão com o astral lá em cima e muita energia boa nesta semana que antecede o Carnaval. Também, motivos não faltam: o trio, que atualmente compõe o grupo Rap Pampa Crew (RPC), desembarca nesta quarta-feira em Porto Alegre, para uma sequência de três eventos relevantes no cenário gaúcho de Hip-Hop – e fundamentais para a visibilidade da música fronteiriça, tão distante geograficamente dos grandes centros urbanos que muitas vezes acaba esquecida. A equipe viaja acompanhada da fotógrafa e filmaker Caro.lina, do Estúdio Buena Onda,
que fará a cobertura completa dos fatos (os quais você poderá acompanhar aqui, naturalmente).

O primeiro compromisso da trupe uruguainense (com exceção do DJ PC, que representa Santa Maria) acontece já cedinho da manhã do dia 26, na loja de instrumentos e equipamentos eletrônicos Severo Roth, uma das mais antigas e conceituadas redes do segmento na capital gaúcha.

Às 09 horas, na matriz da Severo Roth (Av. Alberto Bins, 468), situada no ‘coração’ da cidade, está prevista
uma “Canja Musical” com a Rap Pampa Crew. Além de apresentar algumas composições autorais,
o grupo também fará uma roda de bate-papo e contará um pouco de sua trajetória,
desafios, conquistas e projetos.

À tarde, ainda na quarta-feira, o trio segue para outro evento, maior e mais amplo. Trata-se
da participação no projeto “Vem pro Museu – categoria Gravação e Produção Musical”, uma iniciativa
do Museu do Hip-Hop do RS que, através de edital lançado no final de 2024, contemplou 50 artistas independentes do estado. O Rap Pampa Crew foi um dos finalistas e acabou selecionado para figurar
no cast deste evento, bem como para gravar uma faixa produzida pelo consagrado Nitro Di (integrante do DaGuedes), no estúdio Only Jay, instalado nas dependências do próprio Museu. “Os guris do RPC
vão abalar as estruturas do Museu”, garante Ordai, referindo-se à energia que pretendem depositar
na apresentação.

A música escolhida pelo grupo para integrar a coletânea ao lado de outros ícones do rap gaúcho
foi “Hip-Hop na Fronteira”, hit que impulsionou a trajetória dos uruguaianenses em uma fase anterior, quando ainda adotavam o nome “Rasta Rap Project”. Segundo descreve Will, trata-se de “um Rap
de peso, que conta na letra nossas origens, nossa cultura vinda da fronteira oeste gaúcha, fazendo uma conexão entre Uruguaiana e Santa Maria, através do DJ PC”. A faixa estará presente na “Mix Tape #2”
do projeto, cujo objetivo, conforme Nitro Di, é “demonstrar a diversidade e potência do Hip-Hop produzido no Sul, garantindo visibilidade para quem está no corre faz tempo mas ainda não alcançou
os holofotes principais”.

Sobre a experiência, inédita para o grupo, Will Negrão comenta: “pra nós, do Rap Pampa Crew, é muito importante, um momento divisor de águas estarmos sendo produzidos por Nitro Di, uma lenda e ídolo de adolescência; um sonho que se tornou real e alcançável.” Mano Ordai complementa, lembrando
dos desafios redobrados para quem vive ‘longe demais das capitais’: “sair de Uruguaiana, a 800 Km
da capital, pra gravar com uma lenda do rap (Nitro Di), no Museu do Hip-Hop, é algo que seria impensável pra quem não tem recursos financeiros pomposos pra se deslocar”.

Ordai reforça ainda a importância das leis de incentivo à cultura para a viabilização de projetos transformadores como o do Museu do Hip-Hip: “é nisso que as pessoas que criticam esses projetos precisam pensar: se não fosse essa verba, não apenas nós, mas a maioria de quem acessa o Museu
ou agora pode produzir e realizar sua arte já teria desistido ou nem começaria a fazer. Por isso elas são fundamentais sim, porque possibilitam concretizar sonhos como o nosso, de gente que vem de grupos sociais para os quais a maioria das coisas foi negada ao longo dos séculos. Se o Estado deve para alguém, é para nós sim. Então isso não é um favor, é um ressarcimento”.

Já na quinta-feira, 27, o trio encerra a ‘mini-turnê’ em terras porto-alegrenses, retornando ao Museu
do Hip-Hop para outro grande momento dedicado às culturas periféricas do estado: o lançamento
do Programa Decola Hip-Hop, às 13 horas.

Este programa, inédito e inovador no país, garantirá nada menos do que R$ 2 milhões a serem investidos direta e exclusivamente “no fortalecimento de coletivos e ações temáticas ligadas a essa vertente cultural”, de acordo com a Secretaria Estadual de Hip-Hop do RS – a primeira no Brasil 100% voltada
ao rap e demais elementos que integram a maior expressão cultural genuinamente periférica do mundo na atualidade.

Ao comentar esta conquista, Mano Ordai, para além do entusiasmo, não esquece as raízes que fizeram com que o rap e o Hip-Hop rapidamente se tornassem as principais ferramentas de empoderamento
das periferias historicamente marginalizadas. Ele dispara: “O Hip-Hop é resistência, é cultura de luta,
e Noixzz temos essa visão. Quem fica esperando as coisas acontecerem não faz acontecer. E foi justamente por nunca aceitarmos essa postura passiva que agora estamos aqui. Modéstia à parte,
foi nossa trajetória de luta incansável que nos trouxe aqui”.

Quando fala “nós”, Ordai não está se referindo apenas a seu grupo, mas a todos os “linha de frente”
das comunidades populares. Afinal, essa é uma das características básicas do Hip-Hop: a luta pelas conquistas coletivas, das quais também derivam as individuais. Os avanços acumulados pelo Movimento nas últimas décadas parecem advogar no sentido de que estão no rumo certo. Ou alguém ainda duvida?

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